
A Quaresma que nos predispomos a celebrar é um novo dom de Deus que nos ajuda a descobrir a nossa natureza de filhos, criados e renovados por meio de Cristo no amor do Pai e no Espírito Santo. Esta condição filial há-de ser para nós um desafio à descoberta de pertença a uma comunidade de irmãos, que à semelhança das comunidades cristãs primitivas, procura viver a fraternidade como lema de vida. Num ano em que a Igreja Diocesana do Porto sob o lema “Viver em comunhão, formar para a comunhão” incide a sua atividade pastoral na família e na juventude, a quaresma 2012 deve ser o desvendamento da família como espaço de afeto e comunhão. A família é uma comunidade que tem por base a vivência do amor e o estabelecimento de laços de comunhão entre as pessoas. A vida em família é também um trilho que se desbrava à medida que os seus laços enraízam-se e fortalecem-se no amor a Deus Pai. Talvez o segredo da felicidade familiar revele-se por trás da pobreza e simplicidade com que somos convidados a viver esta quaresma. Liturgicamente falando, a quaresma é um tempo de preparação para a Páscoa. A Páscoa, já sabemos, é Cristo ressuscitado, o triunfo do amor sobre a morte, a vida em inteira liberdade. Chegar a esta meta não se deslumbra nada fácil: um longo caminho deverá ser percorrido na fragilidade dos passos dos homens. Assim também a verdadeira felicidade da família será alcançada depois de um itinerário de desafios e obstáculos apenas superados como o suor e o sangue da verdadeira comunhão. Reconhecendo que cada família cristã está chamada a ser sinal da família intra-divina, ou seja, a ser sinal do Amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e assumindo que este Amor expande-se ao Homem e tem no evento pascal de Cristo a sua maior expressão, não podemos descurar a importância que a conversão quaresmal deve ocupar no seio familiar.
Passo a passo, na austeridade e na humildade, na disponibilidade e na liberdade, trilharemos os nossos passos que nos hão de conduzir à vida na Ressurreição. Como frágeis peregrinos lancemo-nos ao caminho trazendo na algibeira o silêncio e o recolhimento daqueles que se predispõe à descoberta da verdade no encontro pessoal e íntimo com Deus. O peregrino de Deus sabe que este é um caminho que se percorre por etapas, “passo a passo”. A ambição poderá deitar tudo por terra, surripiando-nos as forças e a coragem. Firmemos os nossos passos na descoberta dos trilhos e caminhos que nos farão chegar a uma vida na alegria, saboreando a eternidade da vida nova que pela sua Ressurreição Deus inaugurará para nós.
A Quaresma é um caminho com sentido obrigatório para a frente. No entanto, o peregrino que procura alcançar a sua meta, tendo Deus como horizonte, sabe bem que só será capaz de percorrer este caminho olhando para o seu passado, refazendo a sua história e construindo o seu futuro. Este é um caminho sempre novo, que não está feito: será feito por cada um e à medida de cada um. Não há nada igual para ninguém, a não ser chegar ao fim deste percurso, que desembocará noutros sucessivamente novos.
UM SÍMBOLO
Unimo-nos num símbolo que é a Cruz. Para que seja visível por toda a comunidade que há um caminho a percorrer e que este se vai construindo ao longo do tempo. Com o envolvimento de todos, apresentamos um símbolo comunitário, presente nas igrejas onde celebramos os domingos. A CRUZ é o centro desta caminhada, é o símbolo da salvação, dos trilhos que se desbravam na procura da redenção.
Para nós cristãos não é possível falar de ressurreição sem recordar a cruz como caminho para a salvação. Na vida do homem, a cruz de Jesus vai ganhando forma nas muitas cruzes que cada um carrega tantas vezes com sofrimento e dor. Mas é na cruz das dores e dos martírios quotidianos que se desvela a luz da ressurreição. A cruz é caminho, sinal e promessa da vida nova que em Cristo morto e ressuscitado Deus oferece a cada um dos seus filhos. Testemunha da esperança, a cruz anuncia a cada homem a semente de eternidade que se esconde nos cravos que prenderam Jesus ao madeiro. Também na família a cruz é sinal da verdadeira felicidade que se descobre por detrás dos obstáculos e dos sacrifícios que em comunhão se vão ultrapassando. Na cruz e pela cruz recebemos a vida nova, inalámos um odor novo de eternidade. Na cruz faz-se brilhar a luz do amor de Deus, dom maior que recebemos no encontro íntimo e pessoal com Deus.
TRÊS RITMOS, O MESMO CAMINHO
Apresentamos uma proposta de caminhada quaresmal marcada por três ritmos de vivência: caminho comunitário, aquele que percorreremos em comunidade, todos os domingos nas nossas Eucaristias; caminho pessoal, aquela parte do caminho que só cada um poderá fazer no silêncio e na oração pessoal; caminho familiar, o que percorremos com a nossa família.
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