sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Desbravar trilhos de Comunhão, alcançar caminhos de Redenção



Mais um ano em que os passos do homem avançam pelos caminhos da Quaresma, um tempo de conversão na resposta ao convite de Deus: “Sede Santos como o vosso Pai celeste é Santo” (Mt 5, 48). Este é também um tempo de revitalização da nossa vida, das nossas esperanças e dos nossos anseios, centrando tudo o que somos em Cristo, Homem de dores, Deus da redenção.
A Quaresma que nos predispomos a celebrar é um novo dom de Deus que nos ajuda a descobrir a nossa natureza de filhos, criados e renovados por meio de Cristo no amor do Pai e no Espírito Santo. Esta condição filial há-de ser para nós um desafio à descoberta de pertença a uma comunidade de irmãos, que à semelhança das comunidades cristãs primitivas, procura viver a fraternidade como lema de vida. Num ano em que a Igreja Diocesana do Porto sob o lema “Viver em comunhão, formar para a comunhão” incide a sua atividade pastoral na família e na juventude, a quaresma 2012 deve ser o desvendamento da família como espaço de afeto e comunhão. A família é uma comunidade que tem por base a vivência do amor e o estabelecimento de laços de comunhão entre as pessoas. A vida em família é também um trilho que se desbrava à medida que os seus laços enraízam-se e fortalecem-se no amor a Deus Pai. Talvez o segredo da felicidade familiar revele-se por trás da pobreza e simplicidade com que somos convidados a viver esta quaresma. Liturgicamente falando, a quaresma é um tempo de preparação para a Páscoa. A Páscoa, já sabemos, é Cristo ressuscitado, o triunfo do amor sobre a morte, a vida em inteira liberdade. Chegar a esta meta não se deslumbra nada fácil: um longo caminho deverá ser percorrido na fragilidade dos passos dos homens. Assim também a verdadeira felicidade da família será alcançada depois de um itinerário de desafios e obstáculos apenas superados como o suor e o sangue da verdadeira comunhão. Reconhecendo que cada família cristã está chamada a ser sinal da família intra-divina, ou seja, a ser sinal do Amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e assumindo que este Amor expande-se ao Homem e tem no evento pascal de Cristo a sua maior expressão, não podemos descurar a importância que a conversão quaresmal deve ocupar no seio familiar.  
Passo a passo, na austeridade e na humildade, na disponibilidade e na liberdade, trilharemos os nossos passos que nos hão de conduzir à vida na Ressurreição. Como frágeis peregrinos lancemo-nos ao caminho trazendo na algibeira o silêncio e o recolhimento daqueles que se predispõe à descoberta da verdade no encontro pessoal e íntimo com Deus. O peregrino de Deus sabe que este é um caminho que se percorre por etapas, “passo a passo”. A ambição poderá deitar tudo por terra, surripiando-nos as forças e a coragem. Firmemos os nossos passos na descoberta dos trilhos e caminhos que nos farão chegar a uma vida na alegria, saboreando a eternidade da vida nova que pela sua Ressurreição Deus inaugurará para nós.
A Quaresma é um caminho com sentido obrigatório para a frente. No entanto, o peregrino que procura alcançar a sua meta, tendo Deus como horizonte, sabe bem que só será capaz de percorrer este caminho olhando para o seu passado, refazendo a sua história e construindo o seu futuro. Este é um caminho sempre novo, que não está feito: será feito por cada um e à medida de cada um. Não há nada igual para ninguém, a não ser chegar ao fim deste percurso, que desembocará noutros sucessivamente novos.

UM SÍMBOLO
Unimo-nos num símbolo que é a Cruz. Para que seja visível por toda a comunidade que há um caminho a percorrer e que este se vai construindo ao longo do tempo. Com o envolvimento de todos, apresentamos um símbolo comunitário, presente nas igrejas onde celebramos os domingos. A CRUZ é o centro desta caminhada, é o símbolo da salvação, dos trilhos que se desbravam na procura da redenção.
Para nós cristãos não é possível falar de ressurreição sem recordar a cruz como caminho para a salvação. Na vida do homem, a cruz de Jesus vai ganhando forma nas muitas cruzes que cada um carrega tantas vezes com sofrimento e dor. Mas é na cruz das dores e dos martírios quotidianos que se desvela a luz da ressurreição. A cruz é caminho, sinal e promessa da vida nova que em Cristo morto e ressuscitado Deus oferece a cada um dos seus filhos. Testemunha da esperança, a cruz anuncia a cada homem a semente de eternidade que se esconde nos cravos que prenderam Jesus ao madeiro. Também na família a cruz é sinal da verdadeira felicidade que se descobre por detrás dos obstáculos e dos sacrifícios que em comunhão se vão ultrapassando. Na cruz e pela cruz recebemos a vida nova, inalámos um odor novo de eternidade. Na cruz faz-se brilhar a luz do amor de Deus, dom maior que recebemos no encontro íntimo e pessoal com Deus.  

TRÊS RITMOS, O MESMO CAMINHO
Apresentamos uma proposta de caminhada quaresmal marcada por três ritmos de vivência: caminho comunitário, aquele que percorreremos em comunidade, todos os domingos nas nossas Eucaristias; caminho pessoal, aquela parte do caminho que só cada um poderá fazer no silêncio e na oração pessoal; caminho familiar, o que percorremos com a nossa família.

Sem comentários:

Enviar um comentário